segunda-feira, 22 de março de 2010

Armando e Amanda












Armando arma planos.
Um dos planos de Armando alçou vôo e virou aeroplano.

Amanda ama ninguém.
Por isso Amanda anda todos os dias olhando para o chão.

Armando conhece o som das estrelas.
Amanda o som dos pés.

Mais uma vez Amanda anda contando os passos.
Armando contando os pássaros.

Um dia, catando nuvens, rompeu a barreira do sono,
Acordando Amanda que descobriu o céu mais uma vez.

Hoje Amanda ensina Armando as coisas dos pés no chão.
Armando mede ventos e conta a Amanda as alturas.

Paulo Reis

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sorte a Beira-Mar


Tê-las sim, um pouco
Prová-las, o sabor
Das pessoas?
Encontrar os irmãos perdidos!
Ter a sorte a beira-mar
Estar acordado para ver o dia todo passar,
Atento tanto quanto,
Quanto ao vento forte?
Que leve o que tiver que levar
Leve,
Porque até eu, um dia destes
Vôo!

Paulo Reis

quarta-feira, 8 de julho de 2009

No Mundo

É preciso coragem para se perder
E ver perdido nosso alguém é preciso também.
E a volta,
Que é uma escolha,
Tem o sabor de um presente na infância.
Ai mais nada é preciso.

Paulo Reis

Por onde a gente vai

Às vezes, quando minhas janelas se abrem,
E vou espiar a vida lá fora,
Ela é tudo que meus olhos podem alcançar.

Quando esqueço o pesar dos muros,
No outro lado, é ela que esta lá,
Contida em tudo que posso sentir.

Quando eu me for,
Além eu sei,
Seremos paisagem
Ela e eu.

Paulo Reis

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ao Redor do Sol


Nascem e renascem e não vêem a flor.
Os homens cegos, medrosos de luz.
Os homens e suas enfermidades, desgostosos de sol.
Quem anseia o Sol, quem anseia a chuva?
Lobos têm olhos para flores?
Quem tem a febre de ser o que é?

Paulo Reis

Por além (Contos Rápidos)

Ela:Lembrei de você...Talvez assim você conseguisse atravessar minha existência e ver por meus olhos... Consigo ver pelos seus...

Ele:Nos cruzamos em algum lugar entre a tua lembrança, o teu olhar e tua vontade de me ver enxergar pelos teus olhos. O resto linda, são ruídos...

Paulo Reis

Açucena

Aurora do meu íntimo,
Quem não viu tua fundura?

Paulo Reis

terça-feira, 7 de abril de 2009

As coisas do Caminho


Faltava-me o ar do amor que sentia.
Ela era navegar,
Eu com gosto de sol pelas coisas no caminho.
Olhava o azul do céu como quem sonha com ele,
para desanuviar enfim.
Lá um peixe mergulhou em si,
Vagando lentamente para outros vejos além do meu.
Fui até cair com a noite,
Onde tive com as estrelas,
O que as abelhas têm com as flores.
Até os confins do meu mundo,
Onde pesco dias assim.

Paulo Reis

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A Janela do Quarto de Dormir


Eu, sempre que passo por ali,
Indo ou voltando pelo corredor,
Sou levado por mim mesmo a adentrar,
E ver se tu não estás à luz da janela.

Os grampos que seguram coisas de fazer noites de estrelas,
O perfume,
As flores no alto da vidraça,
Tudo parece continuar a ser.

Dois lances de escada,
E lá em cima, noite e dia elas estão abertas,
E é o vento que circula o íntimo que procuro,
Afora Selene .

Enquanto tu cultivas o silêncio,
Eu, da janela do quarto de dormir,
Em silêncio lembro de ti.

Paulo Reis

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Mundo e as Mãos


O que sabemos eu e tu sobre a noite,
Que é escura enquanto fingimos dormir?

O que sabemos tu e eu do dia,
Se fechamos os olhos toda vez que o sol brilha?

O que sabemos nós da felicidade,
Se entristecemos toda vez que aurora bate a porta

O que queremos da vida?

Eles não, fingem enquanto andam,
E vivem enquanto dormem.

A vida passa em frente às varandas e janelas
E apenas uma vez eu a vi andar descalça.

E há tempo eu não lembrava como era mover o mundo com as mãos.
E abrimos os olhos pela segunda vez.

Paulo Reis

Despedidas



Impossível atravessar a vida
A ponte
A rua

Levantar o pó

Enfrentar o inverno,
Sem pensar que você ainda virá.

Paulo Reis

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Há no fim


Bem a frente havia uns lugares muito bons,
Solitários de uma vez.
Mar de um lado,
Estrada de chão beira-mar sem fim,
E...
Mato com cheiro de infância do outro,
Vez em quando um carro.

Há no fim de cada coisa algo que não tenha achado pelo caminho?

Paulo Reis

Avistar


Se por acaso chegar,
E eu já for chuva,
De cá até o longe,
Nós rimos.

Pois lá no outro lado,
O vermelho ainda não é Sol,
E não se avista a ponte.

Aqui,
Largo minhas coisas,
Que não são minhas,
Dispo as roupas mal cabidas,
Há cabides para tudo nesta vida.

Paulo Reis

Agora que me convenci


Agora que me convenci,
Vou te amar até onde puder.
Talvez sempre.
Já que me convenceste,
Não sei onde, nem quando.
Talvez nunca.
Mas hoje logo que acordei
Vi as janelas abertas
E pensei: há uma chance para nós.
Agora.


Paulo Reis

27 de Setembro


Embora tenhas ido antes mesmo de chegar,
Espero o dia em que virá buscar o que é teu.

E neste dia, já que não por acaso, a primavera abriu os olhos,
Estarei eu, com o que em mim é teu e que em ti talvez não exista,
De olhos vendados, já que talvez não por acaso, o inverno tenha aberto meus olhos.

E embora tenhas ido antes mesmo de chegar,
Espero que chegues antes de eu partir.

Paulo Reis

Lá Fora


Seu eu fosse você já estaria
Procurando alguma coisa

Enquanto o carnaval
Demora mais que esta chuva

Eu fico procurando aqui dentro
Palavras ainda nuas
Pra vesti-las feito nuvens
Cobrindo todo Sol que há lá fora

Mas não procure em mim
Eu não estou nem ai
Me deixe assim
Eu não estou nem ai

O lado de lá me parece bem melhor agora

Paulo Reis

Por ai


Então,
Nos vemos por ai,
Eu vou salvar a humanidade,
Que ainda há dentro de mim.

Vou procurar dentro desta tarde,
E esta tal liberdade,
É fácil de achar e perto de ser.

A lucidez que anda nos dias,
Uma claridade e coisas soltas,
De passear por além do ver.

E ai,
Passou voando à tarde?
Quantas primaveras você tem?
E se tiver mesmo perdido a candura?


Paulo Reis

Céus Esquecidos


Não se preocupe se eu posso voar,
Daqui, estas coisas não importam.

Mesmo no vento frio,
São apenas céus esquecidos.

O Sol no alto,
Nos prepara para o segundo lado.
Como vou explicar tantas coisas fora do lugar.
Os dias vão ficando pra depois.
Dias eram os dias.
As mãos dadas,
Vozes lábios,
Tão Lentos.


Paulo Reis

Sim


Sim,
As estrelas são gentis
Por que são passado.
É preciso passá-lo,
O Tudo,
Para virar luz.

Feito quem bagunça água
Com as mãos
Sujeito que tem o jeito de tirar do lugar
Vão-se a ondas
Ficam os dedos molhados.

Paulo Reis

Sonhos de Paulo - II


Eu chorava porque meu chapéu havia rasgado
E rasgava cada vez mais.
Então avistei Marta entre as dançarinas.
Senti que era ali o meu lugar.
A elogiei por ter se tornado uma bela dançarina e ela me disse: quem dera...
Eu já não queria voltar...


Paulo Reis

Sonhos de Paulo


Sonhei uma poesia completa
Lembro uma frase, pequenina.
Era um Jardim admirável,
De barreiras de plantas espalhadas.
Eu circulava recitando um poema,
E tentava ver a mulher que andava no outro lado das folhagens
“E nas estantes de livros, lágrimas suspensas...”.
Eu recitava com propriedade
Acho que a mulher das barreiras também o fazia
Tenho toda a chuva que caia.


Paulo Reis

Solilóquio


Há uma gota que cai
Daquela nuvem
Elas descem
E vestem o chão
E tocam cabelos

Há algo mais naquele céu
De pombos
- Vê, não são astronautas.
E pairam
E cobrem a imensidão

Há uma estrela a mais
Nesta noite de falar só (solilóquio)
- Vê como dói?
E partem
E atravessam

Não caem, são choradas.
E apagam a poeira do chão
E vão

Tudo da impressão
Que apenas vão

Se há alguém que pinta nas alturas,
O faz sem pincel
- Vê, ele as coloca.

Paulo Reis

Geetaa


O Problema é tentar te explicar para onde vou,
Vendo o dia nascer.

Paulo Reis

D’um dia


São intermináveis
Os dias
Que penso em te ligar.

Nesses dias que chovem
E nem sabemos por quê?
Quem é que anda nas ruas?

Quando não se sabe nada,
O que é pensar em você?
Hoje eu vi homens cheios de esperança
E queria te contar

Nesses dias guardados
De intermináveis azuis
E de lembranças

Nesses dias abandonados
Pessoas pelas cidades
Seguem qualquer direção

Quando esquecemos
Velhas histórias
Transformamos algumas manhãs
Em canção

É claro que alguém sairá nesta noite
Que a gente roubou
Sem saber para onde ir

Nesses dias
Em que precisamos voar mais alto
Tudo começa do chão

Paulo Reis

Desanuviar


Esta janela é como uma televisão no domingo,
Mais ou menos com o sol por trás da cortina.
Só com a chuva do primeiro dia da primavera
Pode-se reaprender a andar.

Paulo Reis

Casanova


Mas se disser quem é,
Na quarta hora minha,
Irei até a tua esquina e voltarei,
Logo,
Com uma entre linha para cada luz,
Que te guiara até a esquina minha.

Paulo Reis

Metades


Parte de mim quer colocar no lugar,
Mas a outra, exatamente metade, quer desarrumar.
Quem sabe eu colocasse um olho mágico
Um dia alguém...
Quem sabe um dia...
Alguém...
Um dia...
Quem sabe...

Nenhum ser é capaz de caber no mundo
Por isso tantas histórias.

Paulo Reis

Vasto Oceano


Derrepente, sobrevoando uma longa orla,
Me parece que é lá,
Onde guardo os grãos cinzas dos sonhos.
Ali, tudo vira lágrima, por isso a chuva continua,
Ininterrupta.
A possibilidade de ver toda a distância.
A imensidão.
Toda coragem de pintar-se em preto e branco.

Paulo Reis

Sonhos de Maria Aurélia


Olá,
Sonhei com você essa noite
Você veio pra minha aula de desenhar com a luz.
Estava lin-do.
Com uma veste cinza.
Deu-me uma flor lilás.
Fazia muito tempo que não sonhava com você,
Tinha um olhar sereno, pele linda.
Uma luz.
Enquanto andávamos por um caminho entre árvores deu-me esta flor, lilás.
Mas antes a cheirou e sorriu.



Paulo Reis

Em dois Canários

A noite nunca havia sido tão escura,
Em silêncio aguardo o sono que parece esperar o dia amanhecer,
Manhã que não acorda em mim.
Antes as lembranças eram mudas, cegas e surdas,
Hoje brincam num parque onde eu não posso brincar.
Sinto a razão indo embora,
Sinto ter perdido meu tênis e meus cabelos longos,
Não mais me pertencem.
O que me dói não é estares do outro lado da rua,
O que me dói é te agarrar enquanto te puxas.
É a tua saída daqui que me anoitece mais.
Por entre o dia vem sempre um vazio sem jeito.

Porque a tristeza hoje é assim:
Banco de frente ao mar sem eu e você nem ninguém,
Azul pintado de cinza, chuva para depois,
Ventos que não levam nada.

Paulo Reis

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Uma Tarde inteira












Quando me contou que havia guardado
Uma tarde numa garrafa
Encantou-me tudo
- Olha que era noite e chovia.